domingo, 31 de julho de 2011

Apometria: Ingênua técnica de desdobramento, com desdobramentos perigosos!

Apometria. Como já dissemos, a Apometria não faz parte da Doutrina Espírita. O termo apometria é derivado do gregoApó-preposição significandoalém de e fora de e Metron- relativo àmedida. Segundo aqueles que a aplicam, representaria o clássico desdobramento entre o corpo físico e os "corpos" espirituais do ser humano. Não seria propriamente uma técnica mediúnica e sim uma "técnica de separação desses componentes".

Diz-se que "um médico da turma de 50", "espírita", JOSÉ LACERDA DE AZEVEDO teria iniciado o método no Brasil; no entanto, não sabemos em que Faculdade teria se formado o tal "médico da turma de 50". Posteriormente, em 1965, o porto-riquenho LUIS RODRIGUES teria aplicado a técnica com outro nome. JOSÉ LACERDA teria tentado a metodologia em sua esposa, Dona Yolanda, que seria médium.

Diz-se, também, que teria sido identificado um tal "grande complexo hospitalar na dimensão espiritual denominado Hospital Amor e Caridade". a nossa opinião sobre os chamados "hospitais" da erraticidade, isto é, são fantasias espirituais sem a menor base científica nem doutrinária para validá-los como verdadeiros.

Ora, a apometria é então uma técnica totalmente estranha à Doutrina Espírita, pois segundo esta não existem "corpos espirituais", a Doutrina faz referência apenas ao perispírito. Logo se observa, ao estudarmos o assunto, que se trata de uma técnica que absorve conceitos da Teosofia e do hinduísmo e não é por acaso que a Sra. L. é uma entusiasta desse método, pois adota os princípios do ramatisismo. Apesar de respeitar o seu ponto de vista, repudiamos com veemência a catalogação dessa técnica de desdobramento como espírita, até porque em Espiritismo não há técnicas.

Dizem aqueles que praticam a Apometria que ela "apresenta resultado eficaz em todos (o grifo é nosso) os pacientes, mesmo nos oligofrênicos" (cf. página da Internet intitulada 'Algumas notas sobre Apometria'). Assim, essa técnica seria aplicável para tratamento, inclusive, de deficientes mentais. Ora, em Medicina não existe nenhum tratamento em que se obtém eficácia em todos os casos e até hoje não há cura para os deficientes mentais; logo, a afirmação de cura desses pacientes é, no mínimo, leviana.

O método, em resumo, consistiria em se aplicar "pulsos magnéticos concentrados e progressivos" no "corpo astral" do paciente e, "por sugestão" comandar-se-ia seu afastamento. Desdobrar-se-iam o médium e o doente para contato com "entidades médicas do astral" !!! Está visto que não há a menorcientificidade no método: é um amontoado de termos, sem a menor possibilidade de controle científico e com o falso pressuposto de que os Espíritos estariam à disposição dos médiuns em dias e horas marcados. Enfim, parece-nos um verdadeiro Ôba, Ôba espiritual...

Só para se ter uma idéia: na propaganda de um livro que trata especificamente do assunto, diz o autor que tratou de 16.000 casos nos últimos 10 anos, ou seja, uma média de 1.600 casos por ano... Como conseguir-se o desdobramento de um paciente, do médium e doutrinar os Espíritos num hospital espiritual em tão pouco tempo de trabalho?! Num "estalar de dedos" ?...

Desculpe-me, a Sra. L., mas não recomendamos esse método para ninguém; além disso, ele pouco difere da Projeciologia, tão divulgada pelo Dr. WALDO VIEIRA, que abandonou o Espiritismo para dedicar-se a ministrar Cursos sobre isso...

Finalizando este tópico, diremos que o conhecimento da técnica da Apometria demonstra que a imaginação humana não tem limites, principalmente quando se quer auferir dividendos com a credulidade das pessoas, pois dentro deste barco encontram-se alguns médicos, psicólogos, etc., inescrupulosos; a julgar-se pela propaganda já referida. Não citamos nomes das pessoas porque não queremos personalizar e, embora não conheçamos a Sra. L. - que parece ser de boa-índole - dar-lhe-emos este conselho: saia dessa canoa, ela não está furada não, ela nunca teve fundo!...

Enfim, há um adágio atribuído a ALBERT EINSTEIN que, infelizmente, temos repetido em nossos artigos: "HÁ DUAS COISA INFINITAS: O UNIVERSO E A TOLICE DOS HOMENS".

Quimioterapia . A Sra. L. pergunta como age a quimioterapia nos corpos sutis e até que ponto usá-la? Aqui, novamente a pergunta está prejudicadapela expressão "corpos sutis". Como vimos, a Doutrina só admite um "corpo" sutil - o perispírito; que aliás, é pouco conhecido na sua estrutura íntima. Logo, falar-se em "corpos" sutis é usar uma linguagem, de antemão, obscura, do Ocultismo.

A Sra. L. confere uma tal importância aos "corpos sutis" que chega a duvidar da ação benéfica da quimioterapia ao questionar: "até que ponto usá-la?". Ora, a quimioterapia é extremamente importante para as pessoas que apresentam vários tipos de lesões malignas (câncer), apesar dos seus inúmeros efeitos colaterais, sérios, ela tem prolongado a vida de muitas pessoas, que passam a viver com razoável qualidade de vida (há inúmeros exemplos disso no meio artístico, como é público e notório).

Quanto à ação dos quimioterápicos sobre os "corpos sutis", ou melhor, sobre o perispírito, qualquer coisa que se afirmar será uma temeridade, posto que até hoje não se conhececompletamente o mecanismo de ação de muitos quimioterápicos sobre o corpo físico, imagine-se, então, sobre operispírito !!

Se os ramatisistas, vegetarianos roxos, vêem com horror a alimentação carnívora, principalmente a questão do sangue derramado dos animais, além das supostas "substâncias tóxicas" para os "corpos sutis" - confundindo-se digestãocomputrefação - o que diriam da ação dos quimioterápicossobre os corpos sutis?? Verdadeiros horrores! Digam o que disserem, pois todos têm o direito de dizer o que pensam, mas nada provaram...

Contudo, não acreditamos que uma substância grosseira como um quimioterápico possa ter ação sobre os "corpos sutis", mesmo dinamizado em fórmulas homeopáticas. A propósito, disse KARDEC:

"Os medicamentos homeopáticos, por sua natureza etérea, têm uma ação de certa forma molecular; sem contradita podem, mais que outros, agir sobre certas partes elementares e fluídicas dos órgãos e lhes modificar a constituição íntima."(ALLAN KARDEC. Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos. 1867, EDICEL, SP, p. 71). Enfim, ele mostra que os medicamentos homeopáticos poderiam inibir ou excitar a expressão de um sentimento, mas o sentimento não deixaria de subsistir; então, seria um mero paliativo. A seguir, diz KARDEC:
"Não se pode agir sobre o ser espiritual senão por meio espiritual!"

Será que teria passado pelo pensamento de alguém, recomendar aos doentes em tratamento quimioterápico, que o suspendam pelos efeitos colaterais e os submetam a um "tratamento" apométrico?!... Acreditamos que não, pois isto seria uma conduta de aprendiz de feiticeiro, mesmo com todo o aparato do suposto Hospital Espiritual "Amor e Caridade"; aliás, Amor e Caridade têm sido palavras fáceis de pronunciar e difíceis de se encontrar, como diria o sambista; e o "samba" da apometria é o "samba do crioulo doido" como diria STANISLAU PONTE PRETA.

Enfim, procuramos analisar uma técnica, muito ingênua, exótica, com inúmeras fantasias e ações pseudocientíficas, incomprováveis, cujas conseqüências são imprevisíveis; pois além de iludir a boa-fé de pessoas simples, abre campo para a atuação dos inescrupulosos, encarnados e desencarnados.

Iso Jorge Teixeira
Psiquiatra. Livre-Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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